CAPÍTULO IX - A PESQUISA COMEÇA E A CAÇADA RECOMEÇA - LIVRO "A FARSA- a passagem de Mengele na Amazônia"
CAPÍTULO IX
A caçada recomeça
ERWIN MEIER
O pequeno e insistente judeu não conseguia entender esta passividade de seus compatriotas em deixar em liberdade o já famoso “Anjo da morte de Auschwitz”. Suas informações, relatos de sobreviventes, arquivos recuperados mostravam sua importância como carrasco de Judeus. Mesmo assim o “Mossad” e outros caçadores de nazistas não se moviam para prender Mengele. Mandara para todos, as fotos de Mengele e seu ajudante de ordens no endereço de Buenos Aires. Das viagens para a patagônia e de suas reuniões com outros alemães em bares e restaurante da capital portenha. A única resposta havia sido de um repórter do Jornal “Haaretz” da cidade de Jerusalém, onde o assentamento sistemático de Judeus, dava os contornos do novo país. Sabia o motivo, tinha sido seu contato via manuscrito, era jovem e queria mostrar sua capacidade, seu nome Deko Sharon. Suas publicações porém, não tinham o eco previsto.
Seguira-os até a fronteira brasileira. Documentara e conseguira cópias dos documentos que o identificavam como Pedro Gerhard, mesmo assim nada foi feito. Não pudera entrar no Brasil, mas mesmo assim o seguiria. Esta era sua missão. Sua vida.
Estava para conseguir o visto de entrada no Brasil, quando o conseguisse, sua caçada continuaria.
Recebe uma nova carta de jornalista Deko Sharon, para quem entregara o Relatório minucioso sobre a vida do algoz alemão, este informa que o matutino em que trabalha (jornal “Haaretz”, o mais antigo de Israel) calou-se sobre as informações recebidas. Ele, contudo, acreditava nas informações de Erwin e pedia prioridade nas noticias e no andamento de suas investigações. Neste momento nada podia fazer, mas ajudaria a descobrir como funcionava a rede de proteção aos nazistas e em especial de Mengele.
MANAUS – AMAZONAS – julho de 1949.
O dia amanhece uma pequena névoa paira sobre a grande cidade. Do alto do barco, sentado em seu camarote, Mengele observa a cidade em plena selva. Primeiro a enseada do Marapatá, depois altos barrancos, o contorno de Educandos, a cidade flutuante, o porto das Bananas, a Igreja dos Remédios e finalmente o Roadway. Uma estrutura construída pelos ingleses e lhe lembrou o porto de Liverpool na Inglaterra. È nela que aportam para surpresa do alemão.
Antes de descer para o convés do barco, um rápido pensamento e uma sensação de saudade e prazer perpassam sua mente. Lembra-se da noite fogosa passada com Gilda no porto da cidade de Parintins. Ainda sente seu cheiro agridoce, seus beijos molhados e sua impetuosidade sexual. Nunca havia tido uma experiência assim. Nenhuma mulher das muitas de sua vida tinha agido e feito o que ela fez. Sente sua falta. Sua voz macia e inquisitiva, querendo saber como era o mundo além da ilha. Seus descompromisso com padrões estabelecidos, sua naturalidade para com o sexo. Nada era pecado ou proibido. Deveria ser bom para todos. Sua beleza exótica e a cumplicidade criada. Tinha sido demais.
Um grito de Severino tira o alemão de seus pensamentos. Chateado, volta-se para o Comandante e este aponta um grupo de pessoas que vem pela ponte do Porto em direção ao barco. Mengele os olha com desconfiança. Serão inimigos? Um homem lhe acena, reconhece entre eles Mr.Cook. É o americano com sua comitiva que vem saudar a chegada de seu mais renomado pesquisador.
Mengele salta pela prancha e de pé na estrutura de ferro da balsa do porto, fica a espera dos que chegam. Sua figura imponente se recorta na claridade da manhã. Ao seu lado o pequeno Severino contrasta com sua imponência.
O grupo chega mais perto, Mr. Cook desgarra-se do grupo com passos mais rápidos, quase correndo quer ser o primeiro a cumprimentar Mengele. Quando se aproxima, diminui a velocidade, nota o olhar frio do alemão. Ao chegar este estende a mão. Um cumprimento mecânico, diminuindo a afoiteza de Cook. Os outros chegam, ele os apresenta a Mengele:
- Este aqui é o Desembargador Mattoso, Este é o deputado Armando Silva, que representa o Governador do Estado. Aqui o General Thaumaturgo Soeiro, que representa os militares e ao Presidente Eurico Gaspar Dutra.
Com um cumprimento de cabeça e dando a mão á todos Mengele nada falou.
Mr. Cook continuou:
-Todos estão aqui para lhe dar as boas vindas e auxiliá-lo nesta nova empreitada.
Mengele olha para dois homens altos e brancos que não se integraram ao grupo, apontando para eles pergunta:
- Quem são aqueles dois que não vieram até aqui?
- Ah. Tinha me esquecido. São os dois americanos. São pastores evangélicos que darão apoio para ti na floresta e levarão as descobertas diretamente para nossos laboratórios. Os dois possuem hidroaviões e liberdade de ir e vir. São religiosos. Responde Mr. Cook sem que os demais membros da comitiva os ouçam.
- Tudo bem. Vamos então ver as coisas? Inquire Mengele.
- Sim já fiz reserva no melhor hotel da cidade, mas, os militares gostariam que você se hospedasse no Quartel General da Marinha do Brasil na Ilha de São Vicente. O que achas? Pergunta Cook.
- Vamos para o hotel. Não posso dever favores ou ser visto em instalações militares. Responde o alemão com rispidez.
A noite houve uma sessão especial da Maçonaria na Grande e Benemérita Loja Maçônica Esperança Futura. Usando da palavra ritualística Mengele agradeceu á todos em especial aos irmãos Europeus e Americanos que tem dado salvaguarda a sua vida, como também meios para que ele continue a pesquisa que só traz benefícios para a humanidade. Aos amazonenses que agora conheciam, tinha poucas palavras, mas em breve muito trabalho para mostrar.
No dia seguinte foi conhecer as instalações dos pastores americanos. Era uma chácara perto da área militar, distante do centro da cidade em direção a uma estrada de terra que levava a praia da Ponta Negra.
Viviam no local seis famílias americanas, todas ligadas às igrejas pentecostais. A estrutura era muito grande. Dois galpões tinham em seu interior laboratórios de análise de solo e minerais, outro de dissecação de vegetais e um terceiro próprio para estudos genéticos e moleculares. A modernidade dos aparelhos chamou a atenção de Mengele. As instalações serviriam para analisar seu material com uma rapidez que não tivera em outros locais. O melhor de tudo. Ficava afastado, não tinham vizinhos e tudo era autônomo. Da geração de energia, a água e tratamento sanitário. Os aviões pousavam num rio chamado Tarumã, distante pouco mais de oito quilômetros através de uma estrada na mata. Tudo perfeito para suas pesquisas.
Depois de vários dias de muitas atividades sociais, de conhecer as pessoas ilustres da sociedade local, de ver chácaras, casas e ouvir histórias da selva, de monstros e aparições, de lendas e assombrações, estava entediado e impaciente.
Reuniu-se novamente com Mr. Cook, este acompanhado pelas mesmas pessoas de sempre, importantes e autoridades. Depois de conversarem amenidades, Mengele pediu para falar a sós com o Americano. Foram para uma sala ao lado. Sentaram-se numa poltrona. Mengele então falou:
- Meu caro, preciso viajar. Não vim para este fim de mundo para comer, ir a reuniões e participar de saraus literários. Vim para trabalhar. Preciso subir o Rio Purus.
- Tudo bem. Amanhã vamos cuidar de tudo. Vais com o Severino e seu barco, levando os principais apetrechos. Depois que identificar o lugar. Instale o rádio e mandaremos o Pastor Gladstone com outros materiais. Respondeu Mr. Cook.
- Então tá! Respondeu Mengele. – Lembre-se preciso de documentos que autorizem minhas ações, não posso perder o fruto de meu esforço, por causa de algum caboclo, índio ou alguém travestido de autoridade. Completou ele.
Retornaram para a sala, onde a conversa fluía sobre a ocupação da Amazônia e do Grupo de trabalho denominado Hiléia Amazônica que estava sendo formada no Congresso brasileiro por inspiração do Presidente Dutra.
Mais tarde perguntou ao americano se estas discussões não poderiam afetar o seu trabalho. Mr. Cook respondeu que não. Havia um tratado entre os dois Governos, oriundo da composição de forças da guerra. O Brasil dependia dos valores dos empréstimos acertados. Não haveria problema, era só não alardear nada.
Mengele tomara conhecimento da criação do Código de Nuremberg, criado em 1947, durante os julgamentos de médicos nazistas que faziam experimentos com seres humanos em campos de concentração, que impõe o consentimento dos seres humanos para participar de testes e pesquisas médicas. Tinha sido difícil a rede de proteção, tirar seu nome da pauta de julgamento. Mas conseguiram e ele pode continuar suas experiências pelo mundo, sempre buscando lugares onde este código não era conhecido, tampouco observado.
Soubera também da criação da OMS - Organização Mundial de Saúde, criada em sete de abril de 1948, com o objetivo de que todos os povos atinjam o mais alto grau de saúde, definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.
Tinha consciência que a etapa brasileira seria sua última nas experiências, por isso a escolha de índios semi-isolados, que desconheciam os medicamentos industrializados. Que continham em seus organismos vermes, vírus e bactérias há muito extintos. Era um campo ótimo para concluir suas pesquisas iniciadas com os gêmeos em Auschwitz.
Não poderia ser impedido quando estava tão perto da conclusão de seus estudos.